top of page

"Tal qual um Beckett maranhense, em SÍSIFO (transe remix #0), Dionisio constrói uma narrativa na qual o um homem chamado Sísifo espera a chegada de uma figura intitulada Animal."

 

Luiz Mauricio Azevedo - Rutgers University - Newark - New Jersey / USA

 

"Remix é o nome dado para uma música modificada por outra pessoa ou pelo próprio produtor. Essa modificação, na maioria dos casos, é feita por um DJ, onde ele coloca uma batida animada e efeitos adicionais criando uma versão dançante na música remixada. Existem diversos tipos de remixes como Dance Remix, Trance Remix, Hybrid Remix, Hard Remix, Megamix, Vocal Remix entre outros." - Wikipedia

 

     SÍSIFO (transe remix #0) é o novo e inédito espetáculo de DIONISIO NETO, autor, ator e diretor que comemora 21 anos de carreira desde sua estréia em 1995 com a Trilogia do Rebento (Perpétua, Opus Profundum e Desembestai!). 

     O texto foi lido na FOLHA DE S. PAULO com excelente receptividade do público, que, entusiasmado, pediu a urgente montagem do espetáculo. O texto integra o segundo volume de peças de Dionisio Neto lançado em 2017 ( http://benfazeja.com.br/produto/desembestai-dionisio-neto/ ) . Também foi lida na ESCOLA SÃO PAULO no evento O ATOR MULTIMÍDIA.

     Teatro + show + performance, este espetáculo sensorial e contemporâneo é a síntese da dramaturgia do autor, que em 2015 também lançou a coletânea "Cinco peças" (Ed. Giostri), com textos teóricos sobre sua obra de Otávio Frias Filho, Samyr Yazbek, Nicolau Sevcenko, Ivan Feijó, Francisco Carlos, Alejandro Mansilla, Luis Claudio Machado e Eugênio Lima, celebrando sua obra autoral.

    

     Um clipe teatral lisérgico, pós-dramático e contemporâneo onde 3 personagens: O HOMEM - Sísifo (Dionisio Neto), A MULHER - Janaína (Helena Ignez) e O ANIMAL (Fransérgio Araújo) em um texto carregado de imagens e poesia dramática sobre os instintos básicos de sobrevivência do ser humano. A peça conta a história de um dia na vida deste Sísifo contemporâneo, e o que acontece em seu pensamento enquanto executa seu trabalho diário, sob a visão particular do autor, que, como um DJ de dramaturgia, remixa e dialoga com estilos dramatúrgicos de Bernard-Marie Koltés, Beckett, Sara Kane, Walt Whitman e Shakespeare, criando uma peça original e inédita, leal à sua poética e imaginário.

 

     O resultado é um caleidoscópio teatral alucinógeno que evoca sensações primitivas nos espectadores levando-os a uma experiência poética e sensorial viva, além de contar, brechtianamente o mito clássico em si, fazendo com que a plateia entre em um transe coletivo contudo sem perder o fio da meada, o fio de Ariadne que o conduz do começo ao fim da história. O dramático e o pós-dramáticos dialogam, hora conduzindo o espectador ao entendimento cartesiano da ação, hora arremessando-o ao universo poético peculiar do autor.

 

     Como em Opus Profundum (1996), peça-festa-manifesto-show, considerada pela crítica especializada como "um dos mais belos espetáculos da história do Festival de Teatro de Curitiba" (Folha de S. Paulo), Dionisio Neto optou por também dirigir o espetáculo, de volta às suas raízes, na busca de uma obra de arte absolutamente autoral, reafirmando a parceria de sucesso do autor-ator com a Musa do Cinema Novo Helena Ignez, o estilista Reinaldo Lourenço e o diretor Ivan Feijó .

 

     Para o chill-in (aquecimento) de antes do espetáculo, e chill out (relaxamento) de 15 minutos depois, será convidado um DJ local que toque remixes de variados gêneros musicais (do erudito ao pop).

     O ZERO é o eterno-retorno. Também é o início de uma sequência que o autor quer dar a este estilo dramatúrgico ao dialogar com outros personagens da dramaturgia e mitologia universal, recriando-os.

 

     Este espetáculo inicia as comemorações de 21 anos da COMPANHIA SATÉLITE.

 

     A encenação é minimalista, inspirada em movimentos clássicos do teatro Nô em inédita fusão com o expressionismo, o naturalismo, as artes marciais, em especial o taekwondo e a dança de Marcelo Gabriel da Cia. de Dança Burra. Linhas retas, precisas, poucos gestos, em contraposição ao barroquismo contemporâneo do texto, evocando um diálogo contemporâneo, inovador e autoral para o Teatro Brasileiro.

 

     Para a recepção do público bem como para sua saída do teatro, um DJ tocará “remixes” de músicas pops fazendo com que a imersão na atmosfera teatral de show seja completa.

 

INSPIRAÇÃO

 

     Inspirada no mito grego de Sísifo - "o mais astuto dos mortais, mestre da malícia e da felicidade, que entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuse, condenado por eles a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido, perpetuamente. Por esse motivo, a expressão "trabalho de Sísifo", em contextos modernos, é empregada para denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos, repetitivos e inevitavelmente fadados ao fracasso - algo como um infinito ciclo de esforços que, além de nunca levarem a nada útil ou proveitoso, também são totalmente desprovidos de quaisquer opções de desistência ou recusa em fazê-lo. Sísifo tornou-se conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Tratava-se de um castigo para mostrar-lhe que os mortais não têm a liberdade dos deuses. Os mortais têm a liberdade de escolha, devendo, pois, concentrar-se nos afazeres da vida cotidiana, vivendo-a em sua plenitude, tornando-se criativos na repetição e na monotonia." Wikipedia

EQUIPE

 

     Para compor a equipe, convocou um time de peso, com quem ele já vem trabalhando há algum tempo em projetos paralelos de música e teatro.

     O diretor Ivan Feijó, parceiro habitual do autor em espetáculos como Desconhecidos e Os dois lados da Rua Augusta.

 

     O multi-instrumentista RUMBO REVERSO executa a trilha sonora ao vivo com guitarra, bateria eletrônica e gaita.

 

     Os figurinos de Reinaldo Lourenço (um dos mais renomados estilistas brasileiros, com quem Dionisio Neto já trabalhou em Seios e Antiga, peça com a qual foi indicado ao Prêmio Shell de melhor figurino) dão o tom rock do espetáculo com um perfume étnico surrealista, gerando imagens únicas, originais e de extrema teatralidade. 

     O coreógrafo e dançarino Marcelo Gabriel (Cia. de Dança Burra) é o responsável pela direção de movimentos, transformando a sensibilidade dos atores em estética corporal.

 

 

PERSONAGENS

 

     Os personagens são arquetípicos. O Homem é Sísifo, como metáfora do trabalhador contemporâneo. 

     O animal é a personificação do mal contemporâneo em seu zeitgeist corrosivo, a sociedade de consumo, a tacocracia, o capitalismo selvagem e a tecnocracia. Para este papel foi convidado o ator Fransérgio Araújo, ator investigador do Teatro Selvagem quee atuou em diversos espetáculos do Teatro Oficina.

     A Mulher é Janaína, rainha das águas, mãe e amante que ama e protege seu filho Sísifo e o aconselha antes da contenda. Para este papel, Dionisio Neto convidou a eterna musa do Cinema Novo, Helena Ignez, com quem trabalhou em "ANTIGA" (2000).

 

 

ENTREVISTAS

 

     O autor e elenco estão disponível para entrevistas.

 

     Para solicitação e agendamento, por gentileza enviar email para: dionisioneto@uol.com.br

++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

 

     SINOPSE: Inspirada no mito grego de SÍSIFO (que é condenado perpetuamente a carregar uma rocha até o alto de uma montanha e quando chegar lá, empurrá-la para baixo), em formato de show teatral com música ao vivo executada por Rumbo Reverso, SÍSIFO

(transe remix #0) apresenta um dia na história de SÍSIFO (Dionisio Neto), um homem que está de tocaia a espera da sua caça do dia. Em um turbilhão imagético carregado de drama e poesia, ele dialoga com sua mãe JANAÍNA (Helena Ignez), que lhe dá conselhos sobre a conduta da caça e o aconchego ancestral materno. O ANIMAL (Fransérgio Araújo) aparece e o conflito se estabelece quando eles se encaram frente a frente. 

 

Objetivos a serem alcançados:

 

     A COMPANHIA SATÉLITE tem como objetivo produzir, ensaiar e realizar vinte e uma apresentações (sete semanas a preços populares) do espetáculo teatral inédito SÍSIFO (transe remix #0, de Dionisio Neto – uma releitura contemporânea do mito grego de SÍSIFO, totalizando cinco meses de projeto.

            Este espetáculo é comemorativo aos vinte e um anos de existência da companhia.

            No elenco, além de Dionisio Neto estão a musa do Cinema Novo – Helena Ignez, o ator Fransérgio Araújo e o músico Rumbo Reverso que executa ao vivo a trilha sonora do espetáculo.

            Serão contratados profissionais para a execução do projeto na sua totalidade, bem como alugada uma sala de ensaio para a criação e produção do mesmo.  

            As apresentações de classificação indicativa Livre serão realizadas em um teatro escolhido pela produção na capital paulista.

            Durante a produção do espetáculo serão confeccionados figurinos, cenografia, iluminação e material de divulgação que será enviado à mídia especializada.

Contribuiremos com o desenvolvimento e difusão da dramaturgia teatral contemporânea, levando um texto atual, poético e de ampla compreensão do público bem como para a formação de público e a popularização das artes cênicas em São Paulo.

            Após a conclusão das apresentações, finalmente o espetáculo será desproduzido e os relatórios das atividades serão encaminhados ao departamento responsável.

         

Justificativa dos objetivos a serem alcançados:

COMPANHIA SATÉLITE - 21 anos de História no Teatro Brasileiro

 

            De volta às suas origens, o autor Dionisio Neto retoma o estilo de peça-show que consagrou com “OPUS PROFUNDUM” no Festival de Curitiba em 1997 ganhando a primeira página do maior jornal do mundo, o The New York Times, que na época da apresentação do espetáculo em Nova Iorque por ocasião da participação do espetáculo no BluePrint Series Festival, sob curadoria do papa do off-broadway Richard Foreman onde ganhou o prêmio de “Contribuição Artística”, e que contou com nomes de peso na plateia como o ator Willem Dafoe, relatou que o espetáculo “chamava a atenção desde os bastidores”. Vinte e um anos depois, também reatando sua parceria com a Musa do Cinema Novo Helena Ignez, que dirigiu em seu espetáculo autoral “ANTIGA” (2000), o autor-ator-diretor, retoma sua poética peculiar, desta vez tendo como inspiração o mito grego de “SÍSIFO” (o mais astuto dos mortais, condenado pelos deuses a levar infinitamente uma pedra até o alto de uma montanha e quando ela chegar lá, empurrá-la de volta ao seu local de origem) em uma releitura contemporânea, inovadora e inédita. 

Para compor a equipe, convocou um time de peso, com quem ele já vem trabalhando há algum tempo em projetos paralelos de música e teatro.

           Em busca de um espetáculo teatral autoral inédito e original, a Companhia Satélite escolheu como tema o mais astuto dos mortais para questionar o eterno-retorno da existência, a sobrevivência, a mulher e o arquétipo feminino em fusão com a brutalidade do capitalismo contemporâneo expresso na figura mitológica do Animal. Um espetáculo teatral com atmosfera rock, que ao mesmo tempo que evoca um tom didático dramático conversando com um mito tão ancestral como o de Sísifo, vai aos limites do pós-dramático em um tom lírico de poesia lapidada, característica da dramaturgia do autor.

            Helena Ignez, que durante décadas foi musa de uma das maiores expressões da cultura brasileira, desta vez encarna o arquétipo feminino em toda sua força e sutileza.

            Fransérgio Araújo, ator ícone das maiores produções do Teatro Oficina vive o arquétipo do capitalismo e Dionisio Neto, o herói que busca sentido em seu trabalho repetitivo e aparentemente sem nexo – metáfora da existência no seu sentido mais original.

            Comemorando vinte e um anos de existência, a Companhia Satélite fará vinte e uma apresentações do espetáculo.

            A poética da dramaturgia do texto enobrece a Língua Portuguesa em seu barroquismo fazendo com que tradição e modernidade se unam, bem como o teatro e a música, o ocidente (rock) e o oriente (teatro Nô) dêem as mãos, resultando em uma obra artística que além de apresentar ao público um cânone da civilização – o mito grego em si – em uma nova roupagem, espelho de seu tempo.

            A desconstrução da história clássica milenar e a reconstrução dela sob uma ótica autoral, a criação dos personagens, figurinos, cenografia, música e texto serão apresentadas em profusão simbiótica em um caleidoscópio teatral lisérgico, fazendo com que a experiência do público seja transcendental, buscando a catarse coletiva em forma de transe cênico sinestésico de acessibilidade popular em sua peculiar erudição de profunda comunicabilidade, entendimento e emoção, fazendo com que o Teatro Brasileiro dialogue com as vanguardas artísticas internacionais, sem subestimar seu precioso público.

Proposta de encenação:

 

     Inspirada no mito grego de Sísifo - "o mais astuto dos mortais, mestre da malícia e da felicidade, que entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses, condenado por eles a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido, perpetuamente. Por esse motivo, a expressão "trabalho de Sísifo", em contextos modernos, é empregada para denotar qualquer tarefa que envolva esforços longos, repetitivos e inevitavelmente fadados ao fracasso - algo como um infinito ciclo de esforços que, além de nunca levarem a nada útil ou proveitoso, também são totalmente desprovidos de quaisquer opções de desistência ou recusa em fazê-lo. Sísifo tornou-se conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Tratava-se de um castigo para mostrar-lhe que os mortais não têm a liberdade dos deuses. Os mortais têm a liberdade de escolha, devendo, pois, concentrar-se nos afazeres da vida cotidiana, vivendo-a em sua plenitude, tornando-se criativos na repetição e na monotonia." Wikipedia

PERSONAGENS

 

Os personagens são arquetípicos. O Homem é Sísifo, como metáfora do trabalhador contemporâneo. 

            O animal é a personificação do mal contemporâneo em seu zeitgeist corrosivo, a sociedade de consumo, a tacocracia, o capitalismo selvagem e a tecnocracia. Para este papel foi convidado o ator Fransérgio Araújo, ator investigador do Teatro Selvagem quee atuou em diversos espetáculos do Teatro Oficina.

            A Mulher é Janaína, rainha das águas, mãe e amante que ama e protege seu filho Sísifo e o aconselha antes da contenda. Para este papel, Dionisio Neto convidou a eterna musa do Cinema Novo, Helena Ignez, com quem trabalhou em "ANTIGA" (2000).

 

Concepções de cenários, figurinos, iluminação e música:

 

CENOGRAFIA: A cenografia tem como inspiração o universo dos shows de rock de bandas como TITÃS, NIRVANA, U2. Em harmonia com a direção minimalista, temos como referência um jardim japonês, onde os poucos objetos utilizados (cadeira, globo espelhado, escada) serão estrategicamente colocados no palco junto com retornos e amplificadores. 

 

FIGURINOS: Os figurinos têm inspiração em astros da música pop, como David Bowie, Prince, Bjork, bem como personagens de vídeo game e Cosplay japoneses. Serão utilizados tecidos nobres em contraposição com tecidos rústicos. Sísifo veste-se como um caçador futurista, Janaína como a grande mãe das águas e o Animal como um capitalista punk. Os personagens terão a imagem de astros do rock.

 

ILUMINAÇÃO: Inspirada em shows de rock, a iluminação utilizará as cores vermelho, azul, rosa, verde, magenta e amarelo em sua base. Serão utilizados efeitos como raio laser, estrobo, e máquina de fumaça. Tanto o palco como a plateia serão iluminados em uma atmosfera rock que dialogará com o espetáculo intensificando a sensação de transe em forma de um caleidoscópio teatral.

 

MÚSICA: Utilizando guitarra, gaita e bateria eletrônica, será composta uma trilha para cada personagem, com o DNA da Rumbo Reverso que tem como inspiração Coltrane, Spiritualized, Nick Drake. Em uma atmosfera transcendental, a música dará o tom de peça-show, gênero constantemente pesquisado pela Companhia Satélite em paisagens sonoras que dialogam com o texto e as personagens.

Texto para o programa:

Antes da Cena

Luiz Mauricio Azevedo

Rutgers University - Newark, NJ/USA

 

           Há um tipo de esclarecimento que somente o teatro fornece. Esse tipo de esclarecimento, que somente o teatro fornece, nasce no generoso território dos grandes dramaturgos, daqueles que conseguem convencer o leitor de que a ficção apresentada é mais real do que a verdade oculta. Contudo, nem sempre os atores percebem a extensão dessa potência verbal. Assim se perdem nuanças, entonações, e mesmo espetáculos inteiros. Disso nasce uma espécie de geografia particular do teatro: de um lado os atores, do outro os dramaturgos. Há, portanto, uma fronteira entre o trabalho de atuar e o trabalho de escrever teatro. Dioniso Neto cruzou essa ponte, passou para a outra margem. Agora ele transita livremente entre uma ponta e outra, sem ilusões e sem fantasias quanto ao oficio da criação dramatúrgica. Ele sabe os motivos que levam um predicado a se juntar ao sujeito, sabe onde as virgulas devem ficar. Sabe, principalmente, que não se escreve para si mesmo, escreve-se para o teatro. E o teatro não aceita nada menos que um sacrifício de sangue.

          Nas peças escritas por Dionisio Neto, não há o exagero sugerido pelo seu próprio nome, e sim a constrição de quem sabe que está lidando com a matéria prima mais frágil de que se tem notícia: a verdade. Evidentemente, essa invocação tão moderna soa um bocado deslocada quando se tem em mente o universo de contestações e narrativas múltiplas do nosso tempo pós-moderno. Entretanto, quando se fala no teatro de Dionisio, trata-se justamente de um compromisso autoral concatenado com o mais profundo compromisso da utopia moderna.

          Tal qual um Beckett maranhense, em SÍSIFO (transe remix #0), Dionisio constrói uma narrativa na qual o um homem chamado Sísifo espera a chegada de uma figura intitulada Animal. Enquanto espera, trava um embate com Janaína (que na peça se apresenta como pensamento fiscalizador de Sísifo, mas que na mitologia brasileira é a senhora das aguas, aquela que é responsável pelos destinos dos homens quando lançados á própria aventura de suas vidas). Sisifo afirma não pensar, embora esteja submerso em um contínuo fluxo de consciência. É, sem dúvida alguma, um homem do subsolo, revelando um diálogo de Dionisio com Dostoievski e Ellison, mas é também um personagem profundamente brasileiro. Ele vive à caca de um animal, que revela-se posteriormente a natureza inteira, não apenas em sua dimensão orgânica, mas como metáfora dos modos de funcionamento do mundo social. “Nenhum salário pagará suas contas”, chega a professar, a certa altura, o Animal. Entretanto, em alguns momentos, parece-nos que o Animal procurado é quem realmente o procura. Inversão perversa da vida real. Tragédia pura. Após enfrentar seu algoz, Sisifo retorna a si mesmo, em uma síntese resignada de sua história. Está duplamente satisfeito porque cumpriu seu destino presente da espera e porque sabe que se credenciou a cumprir seu destino futuro. Ele se sacrifica hoje porque esse é o requisito necessário para que se possa fazer o mesmo amanhã: sacrificar-se. E assim leva para o topo o mais pesado de seus fardos: ele mesmo. O Animal que enfrenta não é, portanto, a força destrutiva irracional, a pulsão de morte freudiana, mas uma espécie de Deus Jano, que reúne em uma mesma aparição o futuro e o passado, porque para os seres humanos vultosos ambos são a mesma e única coisa.

 

SOBRE

DIONISIO NETO

Autor, Ator & Diretor 

REINALDO LOURENÇO

Figurinos

RUMBO REVERSO

Música ao vivo

DAVID SCHUMAKER

Cenografia e Adereços

HELENA IGNEZ

atriz convidada

bottom of page